Todas as teorias coincidem no fato de que no século V um monge Zen-Budista chamado Bodhidharma (chamado Tamo pelos chineses e Daruma pelos japoneses) viajou da Índia à China para ensinar o budismo aos monges chineses no templo de Shao-Lin-Su. A exaustiva prática da meditação revelou a fraqueza física dos monges. Bodhidharma, então, lhes ensinou uma serie de 18 movimentos que lhes permitiria fortalecer seus corpos e a sua força de vontade. Esses movimentos derivam das artes de combate da Índia e outros países e tiveram sua origem no estudo dos movimentos dos animais. Assim surgiu o que se chamou de “boxe dos monges”. Depois da morte de Bodhidharma, seus discípulos se dispersaram por toda a China.
Ao longo do tempo essas séries de movimentos foram estudadas, complementadas e testadas por vários mestres chineses até se converterem no chamado Kempo Shaolin (chamado também por alguns de “Quan fa” ou “Kung-fu”) e ser difundido por toda a China, a partir do século XIII.
Estas Técnicas foram aos poucos sendo passadas da China para outros países asiáticos e influenciaram a suas respectivas artes marciais.Em okinawa o kempo foi misturado com Okinawa-te (arte marcial nativa) originando o nosso karate-do.
Em todos os países do mundo existe, em maior ou menor grau, a arte marcial com a finalidade de preservar e prosperar seu povo e seus descendentes e, em Okinawa (Ryukyu) existia tradicionalmente o “te” como uma arte de defesa pessoal.
Okinawa é a principal ilha do arquipélago RyuKyu, formado aproximadamente por 70 ilhas, localizado entre a ilha de Taiwan e o Japão. Okinawa pertence hoje ao Japão, mas antigamente Okinawa (Ryukyu) se subdividia em três : “Hoku San”, Chu San” e “Nan San” e cada uma formava um governo autônomo, mas em 1429 foram unificadas pelo Rei ShoShin de “Chu San” em um só Reino de Ryukyu e, o governo com finalidade de preservar a estabilidade do Reino por longo tempo, adotou a política de proibição da posse de armas, na época do Rei ShoShin.
Esta proibição proporcionou um grande desenvolvimento do “te” e também do kobudo (usando utensílios de pesca, agricultura e da vida cotidiana para combate).
Entre os séculos 14 e 15,chamada “Era dourada do Comércio”, onde Okinawa se transformou num grande centro de comércio entre a China e os países Sudeste Asiático.
Em conseqüência, as relações diplomáticas, culturais e comerciais se estreitaram entre Okinawa e os países do Sudeste Asiático principalmente a China e graças ao fluxo de pessoas (monges, soldados, comerciantes e imigrantes) e de cultura entre Okinawa e a China, o Okinawa-te foi enriquecido pela da arte marcial chinesa (chugoku kenpo) e outras artes marciais vindas do exterior, como a de Taiwan entre outras. Desta forma a arte de luta foi transformada e começou a ser chamada de To-de ou To-te . A palavra “To” representava primeiro a dinastia Tang, da China, e posteriormente passou a representar a própria China; To-de significava, então, “mão chinesa” devido à grande influência do Kempo sobre esta arte marcial okinawense (Okinawa-te).
Em 1609, na invasão de Okinawa pelo Japão (clã Satsuma) foram proibidos o uso e a posse de armas e, isso causou um fator inevitável para o desenvolvimento de “te” (carate) como arte de defesa pessoal. Pela Conversa dos anciões, os samurais de Okinawa (praticantes de caratê) se escondiam dos olhares de outras pessoas durante o dia e, treinavam à noite secretamente, longe de lugares habitados, dentro de matas de montanhas, para aumentar seus golppes de punhos tendo como parceiro de treinamento a natureza tais como árvores e rochas.
Com a tradição de várias épocas, os samurais de Okinawa acrescentaram à capacidade de “te” os elementos espirituais como boas maneiras de conduta e educação, se esforçando para o estabelecimento do caminho da arte marcial “Budo”, e o desenvolvimento para o atual “carate-do”.
Havia naquela época três cidades muito importantes em Okinawa: Shuri (a capital), Naha e Tomari Gusuku (distrito de controle direto da dinastia), e devido ao desenvolvimento do Te em cada uma delas ser um pouco diferente, cada “estilo” adotou o nome da cidade onde estava sendo desenvolvido. Assim surgiram o Shuri-te , o Naha-te e o Tomari-te.
O Shuri-te era um estilo considerado como derivado do “Shaolin externo”, bastante explosivo e rápido. Um dos grandes mestres deste estilo foi Sokon "Bushi " Matsumura (1809-1901), aluno do mestre Sakugawa. Este mestre ensinou sua arte não só aos habitantes de Shuri como a alguns praticantes das outras cidades. O Naha-te era um estilo forte e que fazia ênfase na respiração e como tal, foi descrito como “Shaolin interno”.
O “Shuri-te” era chamado de escola Shorin e “Naha-te” de escola “Shorei”. Na época de seus melhores discípulos, a escola “Shorin” (mata luminosa) foi denominada de escola “Shorin” (mata pequena) pelo professor Choshin Chibana (falecido) e a escola “Shorei” denominada “Goju” pelo professor Chojun Miyagui (falecido) e assim continua até hoje.
Quanto a “Tomari-te” é uma mistura de “Shuri-te” e “Naha-te” e quanto a sua sucessão resta uma parte como a associação “Gohaku”.
Atualmente, associaram a estas 3 escolas mais duas: Uechi-ryu e Matsubayashi-ryu, formando 5 principais estilos. Porém, atualmente, estas 5 principais escolas se ramificaram em várias outras escolas devido a diferença de pensamento de seus discípulos.
Os Kanji's (ideogramas) podem ser lidos de duas maneiras: “kun” (pronuncia chinesa) e “un” (pronuncia japonesa). No inicio o karate era chamado de karate-jutsu (pronuncia japonesa) ou tode-jutsu (pronuncia chinesa) com o significado de técnica (jutsu) da Mão (te) Chinesa (Kara ou to).
Quando Karate foi introduzido no Japão na década de 1920 sofreu algumas modificações devido a rivalidade histórica entre Japão e a China.
Existe outro ideograma com a mesma pronuncia “Kara” do Karate, mas com outro significado que não “chinesa”. Este outro ideograma tem origem no termo Sunya ou Sunyata do sânscrito que significa “zero”, “vazio”, e é muito usado na tradição Zen-Budista com esse significado.
Vários mestres, querendo introduzir o Karate-do no Japão, decidiram adotar este outro símbolo e também trocar a expressão “jutsu” (técnica ou arte) por “do” que deriva da palavra chinesa “tao” (via, caminho). Este nome pareceu, então, apropriado já que descreve uma arte de luta sem armas e também duas características importantes do Zen-Budismo: a “mente vazia” (sem preocupações, ódio, inveja ou desejo) e o “caminho”, a “via” que devemos transitar para chegar à iluminação.
A Escola(ryu) Shorin do Karate-do de Okinawa é Karate tradicional e ortodoxo descendente do Shuri-te. Shuri-te era uma arte marcial permitida somente para oficial militar e samurai da dinastia Ryukyu centralizado ao redor do castelo de Ryukyu e foi transmitido como segue:
Sokon Matsumura (orientador de artes marciais e diretamente ligado ao Rei>) ==>Anko Itosu (secretario da Família Real) ==> professor Chosin Chibana. Foi denominado Okinwa Carte-do Shorin-ryu na época do Professor Chibana e, atualmente foi sucedida pelo nosso Sensei Katsuya Miyahira.
A escola Shorin é uma arte marcial mais antiga que se desenvolveu no intercambio cultural entre a Dinastia de Ryukyu e as dinastias da China e, “kata” básico da escola shorin “Naihanchi” que conserva nitdamente as caracteristicas de Hokuha Sorin (Shaolin do norte), arte chinesa que objetiva, principalmente, a ofensiva e defensiva montado a cavalo.
Como as características do Estilo Shorin, temos os seguintes pontos principais:
O método de respiração, é com postura natural sem mostrar “suki” (momento instantâneo de desatenção, desproteção, descuido, imprudência, precipitação,etc ) e/ou “iro”( cor ou fisionomia do rosto) ao adversário e, é importante dar um movimento rápido com inteligência. Portanto, não pode alterar a cor do rosto e, a respiração e inspiração não podem ser percebidas pelo adversário
A aplicação da Força é de dentro pra fora e é importante concentrar a força instantaneamente. Portanto, apesar de que a linha de “enbu” (movimento das partes do corpo durante o exercício de arte marcial) seja reta, para o ataque e a defesa são exigidas agilidade aproveitando o movimento circular e, eles devem ser reunidos em um só movimento com rapidez e inteligência.
No nosso estilo Shorin, por causa das suas características, há muito mais pessoas de longa vida, e nas épocas em que diziam que a vida do homem é de cinqüenta anos, os mestres terminavam a vida com mais de oitenta anos. Este fato da convicção de que nosso estilo é uma arte marcial mais apropriada para saúde também.
Em relação a origem da SHIDOKAN, Mestre Katsuya Miyahira disse o seguinte:
Eu nomeei o meu DOJO como SHIDOKAN através dos ensinamentos descritos no Verso 6, Livro VII do Analects, uma crônica de dizeres e feitos de Confúcio e seus seguidores.
Shi* iwaku, michi ni kokorozasi, toku* ni yori, jin* ni yori, gei ni asobu. [Vol. 4, Livro VII, 6].
O mestre disse, “Eu preparo meu coração no Caminho, me baseio na virtude, me apoio na benevolência para servir e tenho meu lazer nas Artes.”
A meta principal da SHIDO é o aperfeiçoamento do caráter, o qual pode ser alcançado através da prática do Karate baseado na Virtude e na Fraternidade Humana.
SHIDOKAN é o lugar para exercer o Caminho e alcançar a meta principal.
Shi refere-se a Confúcio
Toku significa o poder de comandar o Amor e o Respeito em harmonia com as Leis da Humanidade
Jin indica a Fraternidade Humana
Documento fornecido por:
Sensei Nakazone, Koichi - Kyoshi 8º Dan
Okinawa, Dezembro de 2005
Traduzido por: Maurício Matsuo Oshiro
Santos, Fevereiro de 2006